De Roque e Alfredo, da coleção de contos das malditas Bromélias!... uma história emocionante!
José e o porco anão
Autor: Perdido
FIM
José e o porco anão
Autor: Perdido
José era um fazendeiro pobre, mas muito pobre mesmo. Dinheiro para ele não possuía valor algum, a não ser para limpar seu imundo ânus quando as folhas de bananeira estavam em falta devido à seca periódica. O ouro encontrado em abundância no riacho que cortava sua fazenda servia apenas para substituir seus dentes podres que caíam em profusão todos os anos.
Possuía ele uma vaca, uma pequena horta e seu maior tesouro, um pequeno porco anão, pelo qual era extremamente apegado. Tão apegado que chegara a sacrificar sua frígida esposa numa época fria e infértil, em lugar de seu querido porco que, segundo a falecida havia dito momentos antes de ser degolada e dilacerada com uma pá, daria um excelente banquete de bistecas com pururucas, e filetes e mais filetes de saboroso bacon estariam a dançar em seus pratos pelos frios meses que se seguiriam. José, irritado e faminto, ainda a cortaria em oito grandes pedaços, untando-os na manteiga e assando-os em seu rústico forno a lenha, para degustá-los todas as manhãs por tempo indefinido, sempre com um belo sorriso nos lábios, e estando o estranho porco sempre a lhe fazer companhia à mesa, todos os dias.
E assim era o dia-a-dia de José e seu amado porco. Comiam presunto putrefato pela manhã, tomavam dois copos de leite durante o dia e se deliciavam com algumas suculentas azeitonas à noite, pouco antes de irem para o celeiro, onde dormiam abraçados sobre o feno macio, com os corpos quentes e nus colados. Juntos eram plenos, juntos eram um.
Houve então uma manhã em que José acordou e tristemente percebeu que seu companheiro não estava ao seu lado. A brisa fria da manhã invadiu o celeiro, trazendo consigo o cheiro e o gosto da morte aos lábios ressequidos de José, gelando a espinha do pobre fazendeiro, que correu agoniado para fora, gritando e chamando por seu amado porco. No fundo ele sabia que não seria atendido, que seu porquinho não viria como de costume a saltitar alegre por entre as folhas de alface e a correr serelepe por entre as grandes oliveiras, e que não mais abriria os braços para acolhê-lo em seu colo e afagar seus pêlos ralos e enrijecidos pela lama, emabalando-o carinhosamente como a um filho querido. Não, ele sentia que aquela fatídica manhã o receberia com a notícia mais triste de sua vida.
José correu e correu, como nunca havia corrido antes. Atravessou todo o pasto, com o coração decompassado e a boca seca a clamar por um gole de esperança. E, quando chegou próximo à sua casa, houve uma incrível revoada de avestruzes, que com sua chegada fugiram velozes do ponto onde jazia o cadáver daquele pequeno ser a quem José dedicara tanto de seu coração.
Com passos trôpegos, José se aproximou do que sobrara de seu animalzinho, lágrimas ardentes rolaram por sua face suja de homem do campo, sua boca se contorceu numa expressão de dor indescritível e ele desfaleceu ali mesmo, caindo de joelhos diante do que restara do querido porco anão.
Quando voltou a si, estava sem metade da orelha esquerda e sem o dedo mindinho do pé direito, devorados em instantes por aves de rapina que rondavam a carcaça e seu grande corpo estirado no chão. Afastou com um tapa um urubu-rei que insistia em bicar e perfurar sua língua, e levantou-se, aos prantos, todo ensanguentado, consumido pela angústia e imensa dor da perda inexorável.
Afastou aos chutes alguns abutres que estavam a comer o que restava da pele do crânio do porco, e decepou com uma foice a cabeça de outros mais abusados que atacavam o rabicó que José tanto adorava puxar e esticar em já saudosas noites de verão. Colheu o que restara do corpo e guardou num saco de batatas, num ritual pesaroso e lento, para em seguida enterrar sob a sombra de velha macieira. Mas guardou consigo uma pequena lembrança, uma pequena vértebra de seu grande amor.
Tentou dar prosseguimento normal à sua vida no campo, mas por mais que tentasse não conseguia, não podia, não havia como, faltava um pedaço dele mesmo, sua vida estava terrivelmente incompleta e fadada à solidão. Uma noite, numa de suas crises de depressão profunda, José subiu no telhado do celeiro, com a pequena vértebra bem apertada numa de suas mãos, e no telhado ficou e ficou, até definhar, e morrer. Seu corpo seco rolou então pelo telhado, e foi cair lá embaixo, com um baque seco, quebrando-se o corpo podre.
E assim morreu José, o fazendeiro que era pobre, mas muito pobre mesmo. Mas que teve a maior e mais desejada riqueza de todas: o amor. E ele amou. E foi amado. Quem já passou por isso sabe o significado dessas palavras, e entende o que estou dizendo. Palmas para o fazendeiro José.
Possuía ele uma vaca, uma pequena horta e seu maior tesouro, um pequeno porco anão, pelo qual era extremamente apegado. Tão apegado que chegara a sacrificar sua frígida esposa numa época fria e infértil, em lugar de seu querido porco que, segundo a falecida havia dito momentos antes de ser degolada e dilacerada com uma pá, daria um excelente banquete de bistecas com pururucas, e filetes e mais filetes de saboroso bacon estariam a dançar em seus pratos pelos frios meses que se seguiriam. José, irritado e faminto, ainda a cortaria em oito grandes pedaços, untando-os na manteiga e assando-os em seu rústico forno a lenha, para degustá-los todas as manhãs por tempo indefinido, sempre com um belo sorriso nos lábios, e estando o estranho porco sempre a lhe fazer companhia à mesa, todos os dias.
E assim era o dia-a-dia de José e seu amado porco. Comiam presunto putrefato pela manhã, tomavam dois copos de leite durante o dia e se deliciavam com algumas suculentas azeitonas à noite, pouco antes de irem para o celeiro, onde dormiam abraçados sobre o feno macio, com os corpos quentes e nus colados. Juntos eram plenos, juntos eram um.
Houve então uma manhã em que José acordou e tristemente percebeu que seu companheiro não estava ao seu lado. A brisa fria da manhã invadiu o celeiro, trazendo consigo o cheiro e o gosto da morte aos lábios ressequidos de José, gelando a espinha do pobre fazendeiro, que correu agoniado para fora, gritando e chamando por seu amado porco. No fundo ele sabia que não seria atendido, que seu porquinho não viria como de costume a saltitar alegre por entre as folhas de alface e a correr serelepe por entre as grandes oliveiras, e que não mais abriria os braços para acolhê-lo em seu colo e afagar seus pêlos ralos e enrijecidos pela lama, emabalando-o carinhosamente como a um filho querido. Não, ele sentia que aquela fatídica manhã o receberia com a notícia mais triste de sua vida.
José correu e correu, como nunca havia corrido antes. Atravessou todo o pasto, com o coração decompassado e a boca seca a clamar por um gole de esperança. E, quando chegou próximo à sua casa, houve uma incrível revoada de avestruzes, que com sua chegada fugiram velozes do ponto onde jazia o cadáver daquele pequeno ser a quem José dedicara tanto de seu coração.
Com passos trôpegos, José se aproximou do que sobrara de seu animalzinho, lágrimas ardentes rolaram por sua face suja de homem do campo, sua boca se contorceu numa expressão de dor indescritível e ele desfaleceu ali mesmo, caindo de joelhos diante do que restara do querido porco anão.
Quando voltou a si, estava sem metade da orelha esquerda e sem o dedo mindinho do pé direito, devorados em instantes por aves de rapina que rondavam a carcaça e seu grande corpo estirado no chão. Afastou com um tapa um urubu-rei que insistia em bicar e perfurar sua língua, e levantou-se, aos prantos, todo ensanguentado, consumido pela angústia e imensa dor da perda inexorável.
Afastou aos chutes alguns abutres que estavam a comer o que restava da pele do crânio do porco, e decepou com uma foice a cabeça de outros mais abusados que atacavam o rabicó que José tanto adorava puxar e esticar em já saudosas noites de verão. Colheu o que restara do corpo e guardou num saco de batatas, num ritual pesaroso e lento, para em seguida enterrar sob a sombra de velha macieira. Mas guardou consigo uma pequena lembrança, uma pequena vértebra de seu grande amor.
Tentou dar prosseguimento normal à sua vida no campo, mas por mais que tentasse não conseguia, não podia, não havia como, faltava um pedaço dele mesmo, sua vida estava terrivelmente incompleta e fadada à solidão. Uma noite, numa de suas crises de depressão profunda, José subiu no telhado do celeiro, com a pequena vértebra bem apertada numa de suas mãos, e no telhado ficou e ficou, até definhar, e morrer. Seu corpo seco rolou então pelo telhado, e foi cair lá embaixo, com um baque seco, quebrando-se o corpo podre.
E assim morreu José, o fazendeiro que era pobre, mas muito pobre mesmo. Mas que teve a maior e mais desejada riqueza de todas: o amor. E ele amou. E foi amado. Quem já passou por isso sabe o significado dessas palavras, e entende o que estou dizendo. Palmas para o fazendeiro José.
FIM
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