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Blogger da Turma Camila no Jipão

sábado, abril 28, 2007

Cenas Curiosas do Mundo da Velocidade:

quarta-feira, abril 25, 2007




O Santa Paula venceu hoje (acho que) o Cianorte pelo placar de 5 x 1 (for ao show de bola);
O Time fez 1 x 0 no primeiro tempo e preferiu administrar o resultado, sofrendo o empate no final da primeira parte do jogo.
No segundo tempo o Santa Paula partiu pra cima e o que se viu foi um show de bola e muitos gols.

Placar Final 5 x 1

sexta-feira, abril 20, 2007

Bom, falta pouco pra 1º de Maio quando se completam se não me engano 13 anos da morte do Senna, achei um texto um pouco pesado e triste mas que é um relato muito interessante do que se passou após o acidente em Ímola, tô postando ele abaixo, foi escrito por um jornalista chamado Livio Orichio e retirado do fórum bestlap:
http://www.bestlap.com.br/velocidade/viewtopic.php?t=7304742&postorder=asc&start=100

Capítulo 9: A doutora Fiandre anuncia no Hospital Maggiore de Bolonha: "Senna está morto"
Faz tempo, reconheço, mas estamos de volta. E acho que valeu a pena esperar. Para quem quer saber mais detalhes daquele triste 1.o de maio de 1994, o capítulo de hoje, acredito, irá impressionar. Nós viajaremos desde a minha saída do autódromo Enzo e Dino Ferrari, no início da tarde, depois do acidente, até o momento do anúncio da morte de Ayrton Senna, no Hospital Maggiore de Bolonha, para onde ele foi transportado de helicóptero depois do impacto na curva Tamburello. A não ser o nome dos médicos com quem conversei naquele dia, resgatados em meus arquivos, o que você lerá a seguir vem puramente do que ficou registrado em minha memória e até hoje não contado para ninguém, ao menos no nível de aprofundamento que iremos abordar. Repito: são descrições chocantes, que só interessam aos que, de fato, buscam conhecer os detalhes de tudo o que cercou a morte do maior ídolo esportivo da história do nosso país. Enquanto me dirigia pela terceira vez de Ímola para o Hospital Maggiore no fim de semana, várias vezes recordo-me de ter recorrido a Deus, solicitando-lhe que preservasse a vida de Senna. No princípio eu imaginava que o impacto não fora fatal, mas depois de ouvir de Angelo Orsi, o fotógrafo amigo de Senna, uma descrição mais precisa do que se passara durante o atendimento médico ainda na pista, tinha consciência de que o quadro era grave. Só não imaginava que se tratava de uma situação irreversível. No Brasil, era domingo de manhã, e não me lembro de ter ligado para os jornais que trabalhava e onde estou até hoje, Estadão, Jornal da Tarde e Agência Estado, para informar-lhes de que havia deixado o autódromo. Para mim a Fórmula 1 não interessava mais. Tudo o que eu precisava saber, como cidadão e jornalista, era se Senna sobreviveria. O resultado do GP de San Marino tornara-se irrelevante. Várias vezes tive de dizer a mim mesmo, nos cerca de 50 quilômetros que separam o circuito do hospital, que eu não estava sonhando. Aquilo era realidade. Eu me dirigia até Bolonha para saber se Senna ainda estava vivo. Era a minha terceira corrida como contratado da empresa para cobrir a Fórmula 1. Eu pensei comigo: se Senna morresse, todas as atenções estariam lá na Itália, ao menos até o embarque do corpo para o Brasil. Eu estava sozinho, seria o responsável por levar aos leitores dos jornais de casa um painel de informações de tudo. Que responsabilidade! Isso fez eu me concentrar quase doentiamente no meu trabalho e deixar as emoções, ao menos as maiores, de lado. Frieza, exigi de mim mesmo, no caminho enquanto dirigia o carro. Ao mesmo tempo, comecei a elaborar uma estratégia de cobertura. As notícias estariam no hospital, mas também no autódromo. Era imprescindível ouvir também Frank Williams, dono da equipe de Senna, Patrick Head e Adrian Newey, os homens que assinaram o projeto do modelo FW16 pilotado por Senna. Estacionei o carro no hospital e até então não deparei com nada de diferente na sua rotina. Eu imaginava que haveria gente por todo lado a fim de acompanhar uma eventual cirurgia em Senna. De imediato compreendi que eu chegara bastante cedo ao hospital, a ponto de entrar no edifício e não ver um único jornalista. No fim de uma rampa que dá acesso ao um saguão central, para onde todos se direcionam ao entrar no hospital, vi a primeira manifestação de que Senna estava lá. Um policial, um carabinieri, estava agitadíssimo. Alguém acabara de lhe dizer que o piloto se acidentara e há pouco havia chegado ao hospital, transportado de helicóptero. Ele tinha o chapéu na mão e gritava, sem controle: "Meu Deus, o que é isso, não existe mais piloto como Senna, que corre com o coração". Eu o ouvi e rapidamente entrei no saguão atrás de notícias. Estava meio trêmulo. Apesar da tentativa de manter-me tranquilo, nunca fui um exemplo de equilíbrio emocional e com um agravante, costumo somatizar os dramas. Mas ali não havia jeito. Se eu falhasse estaria desperdiçando a minha grande chance profissional, que eu tanto lutara na vida, ou seja, cobrir o Mundial de Fórmula 1 para a grande mídia impressa brasileira. Cada vez que me lembrava disso ganhava força para deixar de lado as minhas emoções. Deixei de pensar também nas reações que estavam ocorrendo no Brasil por conta do acidente de Senna, o que colaborou para eu me controlar. Nesse momento vi Roberto Cabrini, repórter da TV Globo, com quem sempre tive boa relação profissional, e um pouco mais tarde Celso Itiberê, o correspondente do jornal o Globo em Milão e responsável pela cobertura do campeonato para a empresa carioca. Fui informado pela administração do hospital de que o centro de recuperação, ou a UTI, era no 11o andar do edifício. Não encontrei no hospital um único cidadão que tivesse um mínimo de sensibilidade com o que estava se passando: um piloto de Fórmula 1, ídolo em dezenas de países, lutava para viver e esses pseudo-profissionais continuavam sendo mal-educados, grossos e desinteressados. Mais para frente vou lhes contar um episódio envolvendo-os que é de chocar. O que faltava de bom senso aos funcionários do hospital sobrava aos médicos deslocados para o atendimento. Todos solícitos e não escondendo nenhuma informação. Nos foi orientado que não subíssemos ao 11o andar, mas era impossível atender o pedido do hospital. A notícia estava lá. E eu não errei ao decidir pagar para ver. Logo que sai do elevador encontrei um médico com as roupas usadas no centro cirúrgico. O senhor veio lá de dentro, viu o Senna, pode me dizer alguma coisa? Perguntei, meio afobado, imaginando ouvir um desaforo. Se ele fosse um animal irracional como os outros que trabalhavam no hospital, essa deveria ser a sua reação. Para a minha surpresa, nada disso ocorreu. Descobri tratar-se do doutor Servadei, um dos que atendeu Senna ainda na pista e o acompanhou no helicóptero até o hospital. Apesar de profissional, ele estava abalado. Com voz bem baixa, começou a descrever o que vivera naquela última hora. Ele é quem fala: "Antes mesmo de retirar o capacete, ficamos impressionados com a quantidade de sangue o que piloto perdia. Alguma artéria havia sido atingida com certeza e minha primeira preocupação era, uma vez exposta a cabeça de Senna, tentar conter a hemorragia. Quem orientou a complexa retirada do capacete foi o doutor Watkins, o médico da FIA. Mas tão logo tivemos acesso a sua cabeça, sem o capacete e a balaclava, compreendi que Senna não sobreviveria. Vimos que toda a base craniana estava aberta e ele perdia massa cefálica, cérebro, pelo corte de mais de um centímetro de largura, que corria por trás das orelhas, de lado a lado da cabeça, aberta. Para mim ele havia batido a cabeça no muro da curva Tamburello, em alta velocidade. Isso explicava aquele traumatismo generalizado da caixa craniana." Depois de ouvir aquilo, estava claro para mim que não havia mais o que fazer. A morte de Senna era uma questão de tempo. Pouco tempo. Lembro-me de ter procurado um lugar para sentar e dizer a mim mesmo que aquilo era verdade. Nesse instante passou a circular a informação de que os médicos do caso falariam no centro de conferências do hospital, no térreo. Profundamente abatido, sem saber o que pensar, fui para lá, sempre transportando o meu bloco de anotações o velho computador laptop Toshiba 1000, uma peça de museu se comparada aos que uso hoje. Na mesa do centro de conferência ficaram de pé, nenhum deles sentou, o doutor Domenico Cosco, a doutora Maria Tereza Fiandri, que entrou para a história, por ter anunciado, oficialmente, às 19h05, a morte de Senna, o doutor Andreolli, neurocirurgião, o doutor Servadei e o doutor Gordini, anestesista. O primeiro a falar foi Andreolli, que descreveu o quadro como o mais traumático possível, citando um valor numa escala desenvolvida por um medalhão da neurocirurgia que não me recordo. "Não existe uma área específica do cérebro que podemos atuar para a reparação, tudo foi danificado no acidente. O traumatismo é genérico bem como os danos a todo o tecido nervoso", dizia ele. Entre eu conversar com o doutor Servadei no 11o andar e a conferência, passaram-se cerca de uma hora e já havia muitos repórteres para acompanhar o caso. Na sala de conferência pude observar até mesmo doentes de pijama, que sabiam da internação de Senna em estado de emergência. A consternação pelo anunciado pelo doutor Andreolli foi impressionante. As pessoas tomaram consciência de que Senna, quase um ídolo da humanidade, aquele que parecia imortal, morreria no máximo em questão de horas. Entrei em contato com o nosso chefe de reportagem na época, coordenador do "pool" de jornalistas de esportes do Estadão e JT, Castilho de Andrade, hoje editor do JT, para lhe informar onde estava, o que já apurara e o que viria pela frente. Como eu teria de escrever um volume respeitável de textos naquele dia, Castilho sugeriu que eu já enviasse o primeiro com o que apurara até então. Achei prudente. Sentei numa das cadeiras da sala de conferência e conectei meu laptop em uma tomada que descobrira ali, próximo da mesa dos médicos, que já deixavam o local. Nesta hora surge um cidadão, daqueles imbecis que há pouco citei, dizendo-me que não poderia ficar ai. "Vou fechar esta sala", disse-me com a maior agressividade pensável. Eu lhe pedi que me desse uns 50 minutos para redigir um texto, isso em nada alteraria a rotina do hospital. Quase sem olhar para mim o animal foi até o centro de controle de luzes da sala e me ameaçou, com a mão nas chaves elétricas, ao me informar que se eu não saísse de lá naquele instante ele desligaria a luz do ambiente. Não tive alternativa. Minha vontade era de agredi-lo. Não disse nada e sai. Voltei a falar com o doutor Servadei, o do helicóptero. Ele me deu mais detalhes: "A hemorragia que Senna tinha ainda na pista era tão violenta que durante o vôo até o hospital nós lhe re-implantamos 4,5 litros de sangre, enquanto circula pelo nosso organismo cerca de 6 litros de sangue." Ele também falou da perda de liquor, líquido existente entre as camadas nervosas que envolvem todo o tecido nervoso, a fim de protegê-lo. "Na dilaceração ocorrida no seu cérebro, Senna perdia massa cinzenta e líquor, o que começou a deformar rapidamente suas feições." Toda vez que essas camadas são rompidas, o líquor, mantido sob elevada pressão entre elas, se espalha pelas cavidades que encontra, causando o edemaciamento (inchaço) de todos os tecidos. Em outras palavras, o rosto, a cabeça de Senna estava se deformando rapidamente, ganhando volume. O doutor Gordini, o anestesista, contou-me também o que ocorreu no helicóptero: "Senna teve uma depressão respiratória bastante séria. Nós administramos drogas que reverteram o quadro, mas mesmo que ele não tivesse sofrido os estragos todos no cérebro, decorrentes do impacto no muro, só aquela depressão já lhe teria causado danos irreversíveis no tecido nervoso. Ele teria apenas vida vegetativa. Seu cérebro recebeu pouco oxigênio durante alguns segundos preciosos. No centro de treinamento, Senna chegou a ter uma parada respiratória, quando o que restou do seu cérebro ainda exibia atividade elétrica. De novo nós o reanimamos." Observe, amigo internauta, que em nenhum momento os médicos falaram em afundamento do frontal, causado por algum componente do carro que se projetou na direção da cabeça no momento do impacto. Hoje acredita-se que a barra que conecta a roda do carro ao conjunto mola-amortecedor, denominada push-rod, é que perfurou a viseira do capacete, pressionando a cabeça de Senna contra a parte de trás do cockpit. Essa compressão é que teria causado a fratura da base do crânio. Os médicos apenas me citaram intensa hemorragia originada do rompimento da artéria temporal. Recapitulando: pouco antes das 16 horas eu já estava no Hospital Maggiore e conversava com o doutor Servadei, na porta do centro de reabilitação. Às 16h30 a doutora Fiandri anunciou no centro de conferências do hospital que o neurocirurgião, doutor Andreoli, falaria sobre o estado de Senna. Ficamos sabendo que não havia como intervir cirurgicamente e que a morte era uma questão de horas. Depois voltei a falar com os médicos que me deram mais informações do atendimento. A doutora Fiandri, que se tornou uma espécie de porta-voz do grupo médico, nos avisou que só se pronunciaria se tivesse "alguma novidade." Às 17h55, ela surge novamente no saguão principal do hospital, na porta do pronto-socorro. A esta altura o hospital não mais permitia o acesso ao 11o andar, onde estava Senna, no centro de recuperação. Visivelmente emocionada, a doutora Fiandri informou que o eletro-encefalograma de Senna não acusava mais atividade elétrica. "Senna tem morte cerebral". Boa parte dos profissionais de imprensa que estava no autódromo, a esta altura, lotava o hospital. Para a maioria, aquele foi o primeiro contato com os médicos que cuidavam de Senna. A notícia, esperada pelos que estavam lá, novidade para eles, causou comoção em todos. Estava difícil falar nos raros telefones públicos do hospital. A telefonia celular de longa distância apenas começava. O comunicado da doutora Fiandre era, no fundo, a morte de Senna. Seu coração continuava batendo, mas não por muito tempo. Vi pessoas chorando, dentre eles jornalistas muito emocionados também. Eu ainda não chorara, talvez por conta daquele preparo a que me submeti, dizendo a mim mesmo que ao menos enquanto estivesse ali, atrás de informações, eu mantivesse a situação sob controle. Todos nós, jornalistas, precisávamos nos comunicar com nossas bases, para de novo informar do andamento das notícias. A doutora Fiandri, por exemplo, disse que só voltaria a falar com a imprensa às 21 horas ou se "tivesse alguma novidade". Isso depois de anunciar a morte cerebral do piloto, às 18:05, dez minutos após sair pela porta do pronto-socorro e depois que o empurra-empurra que se estabeleceu a sua volta se acalmasse. Sua previsão para a morte legal de Senna falhou. Às 19h05 ela surgiu de novo, proveniente do pronto-socorro. Não era onde estava o piloto. Com os olhos marejados, ela falou em voz pausada, carregada de emoção, enquanto não se ouvia um ruído sequer a sua volta, apesar da presença de centenas de jornalistas. Todos precisavam ouvir para acreditar: "Senhores, por favor. Desde as 18h40 Senna não registra mais atividade cardíaca. Ele está morto".
Capítulo 10: O rosto de Senna estava irreconhecível. Sua cabeça ficou do tamanho de uma bola de basquete
O que aconteceu depois das 19h05, hora em que a doutora Fiandri anunciou, oficialmente, a morte de Ayrton Senna, no Hospital Maggiore de Bolonha, foi impressionante. A imprensa do mundo inteiro, instalada no hospital, precisava passar a informação para seus veículos de comunicação. Hoje viajaremos das dificuldades de se enviar detalhes do ocorrido ao momento da liberação do corpo do piloto para o Instituto Médico Legal da cidade, passando pela descrição da chocante aparência física de Senna, no centro de recuperação. Naquela época, dia 1º de maio de 1994, os telefones celulares internacionais não eram comuns, tampouco tinham a eficiência de hoje fora do Brasil. Portanto, os aparelhos públicos eram quase que a única forma de contato com a sede de jornais, revistas, as centrais de rádio e até as emissoras de TV. E no Hospital Maggiore havia, no térreo, na porta do Pronto Socorro, onde a doutora Fiandre comunicava regularmente o andamento do estado de Senna, apenas quatro telefones públicos. Eles eram disputados pelos profissionais de imprensa e até por cidadãos que estavam lá por outras razões. Minha única preocupação era com os jornais O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde e Agência Estado, para quem eu trabalho até hoje. Para mim, o uso do telefone naquele instante não era imprescindível. Eu poderia mais tarde conversar com o nosso chefe de reportagem, Castilho de Andrade, e combinar as matérias que eu enviaria. O que mais me incomodava era como obter notícias do autódromo Enzo e Dino Ferrari, já que tão logo Senna se acidentou eu deixara Ímola para acompanhar a tentativa de recuperá-lo no hospital. Além disso, não havia um único local onde se pudesse sentar e escrever um texto no hospital. Já disse aqui, em outro capítulo, como a direção do hospital reagiu depois da coletiva dos médicos que prestaram o primeiro socorro ao piloto. Tão logo eles terminaram de falar, um empregado do hospital ordenou que todos deixassem o anfiteatro e, sem margem para conversa, foi apagando as luzes. É impressionante como muitas vezes os italianos, povo tão sensível para a arte e a precisão dos pratos que sua culinária prepara, se mostram tão insensíveis para questões mais importantes, como essa por exemplo. A saber, eu também tenho passaporte italiano, por conta da minha origem. Eu não estava satisfeito com o que tinha para escrever. Seria tudo muito descritivo. Como eu estava cinco horas à frente do horário brasileiro, em São Paulo ainda era pouco mais das duas horas da tarde. Eu dispunha de mais um tempo para apurar algo novo. Cerca de uns 15 minutos depois de a doutora Fiandre anunciar a morte de Senna, eu estava próximo dos elevadores que davam acesso ao 11.º andar, onde estava seu corpo. Eu sabia, por exemplo, que o irmão do piloto, Leonardo, estava lá, junto de Galvão Bueno e Betise Assumpção, a assessora de imprensa de Senna. Seria bastante importante do ponto de vista jornalístico ouvi-los, se possível. Eles viveram aquelas horas de angústia que antecederam a morte de um herói nacional. Enquanto aguardava o elevador, consciente de que me barrariam o acesso ao 11º andar, conforme já nos haviam informado, um padre de barba longa e branca, baixinho, de idade já avançada, batina franciscana, quase uma caricatura de personagem, deixou um desses elevadores. Estava acompanhado de um senhor com idade próxima dos 50 anos. Desconfiei que eles vinham exatamente do local que eu desejava atingir, o centro de recuperação. -'Padre, por favor, de onde o senhor vem?', lhe peguntei. - 'Sou o padre Amadeo Zuffa. Vim de Ímola para dar a extrema-unção a Senna. Hoje, 1º de maio, é dia de São José da Boa Morte, protetor dos moribundos e desejava lhe oferecer a alma de Senna.' No dia 1º de maio do ano seguinte, o mesmo padre Zuffa rezou uma missa no local do impacto da Williams, na curva Tamburello, mas pelo lado de fora do autódromo, para celebrar a passagem do primeiro ano da morte do piloto. Eu também estava lá, em meio a uma ribanceira limitada pelo rio Santerno, junto de algumas centenas de pessoas. Mas esse é outro capítulo da história. Conforme mencionara, o padre estava acompanhado de outra pessoa que não quis se identificar. Ele fala: - 'Estou aqui apenas para acompanhar o padre, que não pode dirigir e se deslocar sem alguém para assessorá-lo', explicou-me. Tão logo o padre me disse o que estava fazendo no hospital, esse cidadão começou a falar também. Ele esteve junto do padre no centro de recuperação. - 'Senna estava sozinho, numa sala dotada de muitos equipamentos, típica desses centros de recuperação. Ficamos profundamente chocados com o que vimos', disse ele. Depois prosseguiu: - 'Senna estava nu, apenas com uma toalha pequena sobre a genitália. Para se ter uma idéia do que estou dizendo, nós, eu e o padre, não o reconhecemos. Soubemos que era Senna porque um médico nos disse que aquele era o paciente que procurávamos. Seu rosto estava irreconhecível. Sua cabeça ficou do tamanho de uma bola de basquete. Enquanto o corpo não apresentava nenhuma lesão aparente e estava branco, branco, sua cabeça tinha a cor quase negra e estava desfigurada.' Mais tarde, conversando com o doutor Servadei, ele me explicou que quando o traumatismo craniano é profundo, como no caso de Senna, em geral há o rompimento das camadas nervosas que envolvem o tecido nervoso. Como entre essas camadas correm liquor, líquido cefalorraquiano, e ele mantém-se sob elevada pressão entre essas camadas, quando ocorrem lesões nelas o seu extravasamento gera um edema generalizado, desfigurando qualquer superfície da sua forma original. Isso foi o que se passou com Senna. Como a perícia técnica apurou que a barra push-rod da suspensão da Williams perfurou o seu frontal, pressionando a cabeça contra a parte de trás do cockpit e causando a fratura de toda base craniana, Senna teve desde lesões ósseas genéricas a danos amplos e irreversíveis no tecido nervoso. Esse quadro justificou sua aparência irreconhecível já minutos depois do impacto da Williams no muro da curva Tamburello. O tal cidadão que acompanhava o padre e descreveu como estava Senna no centro de recuperação, não contente em conversar comigo, passou a contar, com entusiasmo, a outras pessoas, o que havia visto momentos antes no 11º andar. Eu o procurei e lhe pedi para que parasse com aquele circo. Ele se sentiu o centro das atenções, por ter detalhes daquilo que todos desejavam saber, ou seja, o estado que se encontrava Senna. Galvão Bueno e Betise Assumpção saem do elevador. Estávamos eu, o padre e o tal indivíduo no hall dos elevadores do hospital, no térreo. Leonardo Senna dirigiu-se a outro setor do hospital, a fim de liberar o corpo do irmão para o Instituto Médico Legal. Segundo Galvão, ele já estava um pouco recomposto do choque. - 'Acabou. Acabou', disse Galvão, bastante abalado, mas sem chorar. Betise tinha os olhos inchados. Avisei ao Galvão o que o acompanhante do padre continuava fazendo. Nos dirigimos a ele e lhe pedimos de novo que parasse de fazer o seu show. Cada um tem o direito de dizer o que bem entende, mas naquele caso o que o cidadão pretendia era ser notícia. Ele entendeu nossa argumentação, recolheu o padre Zuffa e, imagino, retornaram para Ímola. Perguntei ao Galvão quem esteve lá na ante-sala do centro de recuperação. Ele me informou que a única pessoa da Fórmula 1 que passou por lá foi Gerhard Berger, grande amigo de Senna. O piloto austríaco entrou e saiu por uma porta lateral do hospital, não passou pelo saguão central, e ninguém o viu. Tempos mais tarde, numa conversa com Berger, ele me confirmou ter visto Senna no centro de recuperação e que aquilo o fez pensar se valia mesmo a pena continuar correndo. Por mais incrível que possa parecer, ninguém da equipe Williams apareceu no hospital para acompanhar, de perto, o drama do piloto da equipe. Soube através do Galvão que Frank Williams havia telefonado para lá, depois da corrida terminada, para ter mais informações de seu "amigo". Eu já tinha o que escrever. Necessitava agora um local para redigir e um telefone para enviar o texto pelo modem do meu velho Toshiba 1000. Sai do hospital e comecei a procurar um hotel nas proximidades. Eu pagaria uma diária, escreveria minha reportagem, a mandaria para a redação e, em seguida, iria para o autódromo, em Ímola, distante cerca de 50 quilômetros de Bolonha. Eu não tinha nenhuma informação da repercussão da morte de Senna no meio da F-1. Custou para eu fazer a atendente do hotel entender que precisava conectar meu computador à linha telefônica. Se ainda hoje na Itália há resistência na maioria dos hotéis para o uso do modem do computador, imagine há seis anos. Uma vez confirmada a chegada dos textos em São Paulo, dirigi-me ao autódromo, já de noite, onde alguns jornalistas ainda escreviam e quase não havia mais ninguém das equipes ou dirigentes. Os que desmontavam os motorhomes, funcionários dos times, desenvolviam suas atividades normalmente. Para alguém que chegasse de fora e não soubesse da tragédia, sequer desconfiaria que naquela pista, horas antes, a F-1 havia perdido um dos maiores pilotos que o mundo conheceu.
Capítulo final: De Bolonha para o Cemitério do Morumbi
Caro leitor: nós poderíamos ir muito além nessa história que envolveu a perda de Ayrton Senna. Para quem se interessa pelo tema, garanto que eu teria ainda bastante a contar. Por uma combinação de razões profissionais que não vale a pena aqui discutir, normais nas relações empresa-colaborador, vamos encerrar hoje a série. Gostaria de pedir desculpas pela minha longa abstinência de textos. Ela decorreu também desses problemas, na qual não posso isentar-me de responsabilidades. Como sempre destaquei, o objetivo deste trabalho foi repassar a vocês um pouco do que vivi e, principalmente, senti naqueles dias que antecederam e logo depois do acidente do Ayrton em Ímola. Se você ainda se lembra, da última vez que falamos sobre o assunto, eu estava no Hospital Maggiore, de Bolonha, acompanhando o minuto a minuto dos médicos até a notícia da morte do piloto. Também dei algumas informações do drama que foi enviar o material para o Estadão, o jornal que trabalho até hoje, e o que vi no autódromo, já tarde da noite daquele 1.º de maio de 1994. Nosso último capítulo começa com o fato de eu não ter dormido a noite seguinte. Recordo de ter chegado ao meu hotelzinho em Riolo Therme, onde me hospedo até hoje e tenho um amigo, Angelo, o proprietário. Pouco antes do amanhecer da segunda-feira, dia 2, tomei banho arrumei toda a minha bagagem, a coloquei no carro, porque sabia que ficaria itinerante, e fui até o autódromo. Apenas alguns vales separam Riolo de Ímola. São cerca de 12 quilômetros por uma linda estradinha cercada de plantações de "plune", que são aquelas cerejas vermelhas grandes, e kiwi, além claro das vinheiras que produzem o vinho da região, o San Giovese. Quando cheguei ao autódromo fiquei espantado com o abandono. Os portões estavam abertos e não havia ninguém. Eram umas 6 horas da manhã. Entrei com meu carro na pista, já que não havia controle. Vagarosamente fui até a curva Tamburello, local do acidente. Eu estava bem abalado emocionalmente. Parei o carro metros antes de onde Senna perdeu o controle e sai para ver de perto as marcas no chão. O circuito tinha o seu leito de asfalto, cerca de uns 3 metros de grama e outros 14 metros de cimento branco antes do muro. Vi com absoluta clareza a marca dos pneus da Williams no chão. Sobre o cimento branco, a trilha formada pelos pneus arrastando-se era absolutamente nítida. Até mesmo o ângulo de impacto no muro podia ser calculado com razoável precisão. Era elevado, algo entre 35 e 40 graus, o que justificou o carro perder velocidade em tão pouco espaço. Espantou-me o relatório da perícia técnica, algum tempo depois, que concluiu que a Williams bateu num ângulo de aproximadamente 17 graus. Ora, se fosse assim, iria desacelerando aos poucos, quase que correndo junto ao muro até perder velocidade. E as marcas no solo? Tudo bem que não fossem absolutamente conclusivas, mas eram altamente indicativas da dinâmica do choque. Ainda hoje desconfio com todas as minhas energias da precisão da análise técnica que se seguiu ao acidente. Nem de longe pretendo ser o dono da verdade tampouco presunçoso, mas tenho convicção que o ângulo do impacto foi muito maior do que o relatado, o que me faz duvidar de todo o restante da apuração. Sai do autódromo colocado para fora pela segurança que chegou de repente. Até as 6 horas não havia viva alma no circuito Enzo e Dino Ferrari. De repente, o pessoal da administração e da polícia desembarcou na pista. Quase fui agredido quando me viram no local do acidente. Sentei no carro e fui embora. O destino era bem triste de ser admitido: o Instituto Médico Legal de Bolonha, onde estava o corpo de Senna. Tomei consciência de que o piloto que eu admirava tanto, por quem tanto torci inúmeras vezes, estava morto. Emocionei-me enquanto percorria os 50 quilômetros que me separavam de Bolonha. Vocês não podem imaginar quanta gente existia na porta do IML. Ninguém podia entrar. Havia um portão de ferro entre a avenida e uma espécie de pequeno estacionamento, dentro do edifício. Nessa área, visível da rua, havia já dezenas de conjuntos de flores, mensagens, fotos, bandeiras. Vindos de todos os cantos e das mais diferentes origens, como torcedores, empresas, equipes, consulados etc. Conheci uma senhora que viajou de trem da sua cidade, distante mais de duas horas de Bolonha, só para estar na porta do IML quando o corpo de Senna saísse. Como até liberá-lo, o cônsul brasileiro em Milão e Celso Lemos, diretor do Instituto Ayrton Senna, precisaram de mais um dia, esta senhora voltou para sua casa na segunda-feira para, no dia seguinte, estar de volta. Ela conseguiu: no fim da tarde da terça-feira retiraram o corpo do IML. Enquanto o veículo que o transportava se dirigia para o aeroporto de Bolonha, as pessoas iam aplaudindo a sua passagem. Eu queria voltar para o Brasil no mesmo avião. Por isso corri para o meu carro e fui para o aeroporto também. Um avião da Força Aérea Italiana levou o corpo de Bolonha para Paris, a fim de ser embarcado no vôo da Varig para São Paulo. Consegui pegar um vôo da Alitália para Paris. Enquanto voava escrevi os meus textos. Naquela época não se podia usar o laptop a bordo, de forma que escrevi as matérias a mão. Tinha pouquíssimo tempo para desembarcar em Paris, trocar de terminal, ditar por telefone o que escrevi para alguém no jornal, e ainda embarcar no mesmo vôo da Varig de Paris para São Paulo. Consegui, no limite, porque o comandante não aceitou levar o caixão no compartimento dos passageiros, conforme manda a lei internacional. Ele só concordou depois de o presidente da Varig ter lhe enviado um fax assumindo a responsabilidade pela decisão. Retiraram as poltronas da seção central da classe executiva, transferiram seus poucos passageiros, por sorte, para a primeira classe, e fecharam as cortinas que separam as classes do avião. Isso mesmo: o caixão envolvido com a bandeira brasileira veio do nosso lado, dentro do avião. Na classe executiva ficaram apenas os jornalistas, dentre eles Galvão Bueno, Betise Assumpção, a assessora de imprensa de Senna, Jofeph Lebner, preparador físico, e Celso Lemos. Os passageiros, a grande maioria, nem desconfiou o que se passava por detrás daquelas cortinas fechadas, muito menos que o corpo de Senna estava ali do seu lado. Os comandantes dos outros aviões que sabiam que a bordo daquele vôo da Varig estava o corpo de Senna, enviavam sinais com os faróis da aeronave, além de conversar com os tripulantes do nosso vôo, via rádio. Galvão Bueno veio contando muitas histórias vividas com Senna. Estávamos sentados ao lado do caixão do piloto. "Olha ele aí. Olha só como nós estamos trazendo ele de volta?" dizia Galvão, emocionado, mas muito controlado. "É... acabou", repetia ele. Pousamos em São Paulo enquanto o dia 4 de maio começava a clarear. Vi a irmã de Senna, Viviane, e seu marido entrarem no avião e levarem um choque ao ver o caixão. Choraram muito. Todos os passageiros haviam saída pela porta de trás do avião, para não terem de passar pela área da classe executiva, mais à frente na aeronave, onde estava o corpo. Os bombeiros entraram no MD11 da Varig, retiraram o caixão e o colocaram num caminhão da corporação. Pude ver enquanto me deslocava do aeroporto de Cumbica até a minha casa, no Ibirapuera, a verdadeira multidão que esperava no caminho para dar seu adeus a Senna. O corpo foi transportado até a Assembléia Legislativa de São Paulo, no Ibirapuera, e de lá para o Cemitério do Morumbi.